O avarento de Marselha
A cidade de Marselha e seus arredores, situada no sul da França, tornou-se notável pelos seus encantadores jardins; porém não fora sempre assim. Antes era uma região árida. Não existem fontes de água na localidade, vindo o abastecimento para a cidade do rio Durante, que dista uns cento e sessenta quilômetros, por meio de um canal construído no período de 1837 a 1848.
Muito antes disso, vivia na cidade um homem de sobrenome Guizon. Andava sempre muito ocupado, trabalhava intensamente e, tanto por suas atividades, como pelo fato de não gastar, parecia ter somente o objetivo de juntar dinheiro. O seu vestuário apresentava sinais de longo uso. A sua alimentação era da mais simples e barata. Vivia só, privando-se de todos os luxos e até mesmo dos confortos mais vulgares da vida. Em Marselha era conhecido como avarento, embora fosse sério em todos os negócios e cumpridor de seus deveres. Ao avistar na rua a sua figura tão pobremente vestida, os rapazes gritavam: "Lá vai o velho sovina!" Mas Guizon seguia sempre o seu caminho, sem fazer caso dos insultos que lhe eram dirigidos, e quando alguém lhe falava, respondia sempre com delicadeza e bom humor.
Dia após dia, ano após ano, quando este pobre homem, que não tinha amigos, passava a caminho do trabalho, ou de regresso, era-lhe dirigida semelhante zombaria. Com o passar dos anos, passou a andar trôpego e amparado por uma bengala; as costas ficaram bastante encurvadas, devido ao incessante esforço, e os cabelos, brancos como a neve. Foi assim que, com mais de oitenta anos de idade, faleceu Guizon.
Depois de sua morte descobriram que ele havia juntado, em ouro e prata, uma imensa fortuna. Entre outros documentos, foi encontrado o seu testamento, no qual havia o seguinte parágrafo: "Eu, quando ainda era pobre, reparei que o povo de Marselha sofre muito pela falta de boa água; pelo que, como não tenho família, dediquei a minha vida a acumular dinheiro necessário à construção de um canal destinado a abastecer os pobres da cidade de Marselha com água potável de maneira que os mais necessitados possam tê-la com abundância". Sem amigos, desprezado e solitário, vivera e morrera, com o fim de dar cumprimento a este tão nobre propósito em benefício dos que tão mal o souberam compreender, e o maltratavam.
Houve outro Homem, num país do Oriente Médio, que foi mal compreendido, desprezado e rejeitado pelos homens. A Sua vida também foi de pobreza voluntária, a ponto de nem sequer ter onde reclinar a cabeça. "Sendo rico, por amor de vós Se fez pobre; para que pela Sua pobreza enriquecêsseis" (2 Coríntios 8.9). Porém, de tal maneira odiavam aquele Homem, tão manso e humilde, que até clamavam com insistência para que fosse morto. "Crucifíca-O, crucifica-O!" Sustando voluntariamente o Seu poder, submeteu-Se à vontade deles, e mãos ímpias O entregaram à morte, crucificando-O. Vendo-O cravado sobre a cruz, escarneceram e riram-se dEle, arreganhando os beiços e meneando as cabeças ao contemplá-Lo (Salmo 22.7,13,14). "Por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação" (Romanos 4.25).
O testamento de Guizon proveu o que era necessário ao abastecimento de água potável para todos os pobres de Marselha; mas, o Senhor Jesus Cristo, pela Sua morte e ressurreição, proveu para todo homem, mulher e criança da raça de Adão, que se achegar a Ele e beber, um manancial de água da vida, a qual satisfaz, e que nunca se esgotará no decorrer do tempo, nem na eternidade.
Da Sua graça o rio, que em justiça Deus proveu,
Corre pelo árido lugar onde Jesus morreu.
Não se pode comparar a abnegação de um Guizon com o custo infinito do sacrifício do Senhor Jesus para pagar o preço. A água da vida está hoje fluindo, e podemos beber livremente dela, "sem dinheiro e sem preço". "Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas" (Isaías 55.1). "Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba" (João 7.37).
"Quem crê em Mim nunca terá sede" (João 6.35). "E quem tem sede, venha; e quem quiser tome de graça da água da vida" (Apocalipse 22.17)